Popularmente, o amor platônico é tido como uma forma de amor não correspondido, ilusório ou impossível de acontecer por inúmeros e variados motivos. O amor platônico também é comumente associado a um tipo de amor onde não existe relação sexual, uma forma de amor denominada como pura, sem interferência das paixões carnais.
Contudo, filosoficamente falando, o amor platônico possui um significado um tanto quanto diferenciado desse que comumente se popularizou.
O que é o amor platônico dentro da visão de Platão
O termo “amor platônico” deriva diretamente do nome do filósofo grego Platão (430 – 347 a.C). Platão acreditava no amor como uma expressão do belo, do divino, do perfeito. Acontece, porém, que um amor perfeito, belo e divino, para Platão, só era possível no campo das ideias, ou seja, não é possível atingir esse nível puro de amor no mundo da matéria, uma vez que o mundo real não passa de uma copia imperfeita do mundo das ideias.
Daí, portanto, que se tem a ideia de que um amor platônico é inatingível ou inalcançável, já que nada que existe na matéria pode ser perfeito. Para compreender mais a fundo o conceito de amor desenvolvido por Platão é preciso conhecer melhor a linha de pensamento desse importante filósofo da antiguidade.
Platão acreditava na ideia de dualismo, ou seja, uma teoria que separa tudo o que existe em dois mundos: o das ideias – ou da alma, espirito – e o mundo da matéria – corpo e tudo o que nos cerca. Entretanto, esses dois mundos jamais se encontram, são completamente independentes.
Para Platão, a alma habita o corpo como uma prisioneira. Contudo, apesar de coexistirem, alma e corpo jamais se misturam, são duas substâncias diferentes e que não se tocam. A partir dessa ideia de que corpo e alma convivem, mas não se tocam foi que Platão desenvolveu o seu conceito de amor.
No entanto, ao longo da história, muitos compreenderam esse conceito de amor de modo equivocado, sugerindo, o que não é verdade, que o amor platônico seria uma abstenção do desejo e das relações sexuais, onde o amor deveria acontecer apenas de modo espiritual.
Só que para Platão, o caminho do amor seria algo intermediário, que passa pelo carnal até chegar no espiritual, a forma mais pura e divinizada possível de amor. A apreciação e a admiração do belo é outro elemento fundamental na concepção do amor platônico.
O filosofo acreditava que a beleza impulsiona o amor, que por sua vez, leva ao querer conhecer e contemplar. Essa forma de apreciar o belo é dividida em quatro etapas, onde todas acontecem de modo muito sutil e gradual, são elas: a beleza corporal, onde o individuo é levado a apreciar o corpo e a aparência do outro; a beleza da alma, estágio em que a beleza do corpo é superada pela beleza interior, onde o foco passa a ser a moral, a ética e a alma do outro; a beleza da sabedoria vem em seguida e diz respeito ao saber apreciar o campo das ideias, superando o corpo, a alma e, até mesmo, a própria pessoa amada; por fim se chega a beleza de si mesmo, onde é possível contemplar o amor desprendido de qualquer objeto ou sujeito, aqui, o amor passa a ser o que é, em um nível supremo e absoluto.
O amor platônico como é visto hoje em dia
A ideia de amor platônico que temos nos dias de hoje surgiu no século XV com o filósofo neoplatônico Marsilio Ficino. Na época, o pensador sugeriu que o amor platônico era o amor direcionado apenas para a beleza do espírito da pessoa, da sua inteligência e moral, sem atingir o campo da aparência física. Esse amor idealizado, possível apenas no mundo das ideias, rapidamente passou a ser visto como inatingível.